quinta-feira, 10 de março de 2011

Leitura no Ensino Fundamental II






Ensinar estratégias que os leitores experientes usam

Antes de começar, vale a pena refletir um pouco sobre a tarefa à sua frente. Você já se perguntou o que significa ensinar alguém a ler? Mais que isso: o que é ler? Um passeio pela origem da palavra ajuda a esclarecer. Do latim lego, ler significa, entre outras coisas, colher e roubar.

O primeiro termo aponta para um tipo de leitura em que o sentido do texto já está pronto, totalmente determinado. Ao leitor, caberia só captar colher o que o autor quis dizer. A essa concepção, dominante até pelo menos os anos 1970, contrapõe-se a indicada pelo segundo termo. Roubar, no caso, equivale a dizer que o autor deixa de ser dono absoluto do que escreve: com base no que lê e em seus saberes prévios, o leitor também constrói sentidos.

Por essa perspectiva, os textos nunca dizem tudo: para se completarem, dependem da interpretação de quem os lê. Essa ideia, presente na maioria dos estudos mais recentes sobre o tema, não significa que o leitor seja livre para atribuir todos os sentidos que quiser. É aqui que entra o ensino: cabe ao professor fornecer indícios para a compreensão algo essencial, ainda mais considerando que os estudantes são, em sua maioria, leitores em formação.

Progressivamente, cada um estabelece um diálogo próprio com o texto e a leitura se torna autônoma, afirma Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.

Encaminhar a turma para entender o que lê inclui ensinar uma série de estratégias de que o leitor experiente lança mão inconscientemente quando se depara com um texto. Uma das mais essenciais diz respeito aos objetivos de leitura: por que estou lendo isso? A resposta a essa questão influi muito na maneira como o faz: se é por prazer, pode ler na cama, pular as partes chatas e até desistir. Se a intenção é estudar as ideias do autor, provavelmente terá um lápis à mão e, compenetrado, registrará os conceitos mais importantes. Agora, se quer encontrar, digamos, uma estatística importante, basta passar os olhos, localizar o número, anotá-lo em algum lugar e fechar o livro.

Também é comum explorar o texto antes de ler. No caso de um livro, vale passear pela capa, explorar a biografia do autor na orelha e dar uma olhada no índice. No jornal, títulos, subtítulos e fotos captam a atenção. Ao mesmo tempo, cada um compara o que está escrito com seus conhecimentos (o que sei sobre o conteúdo do texto?) e se indaga: o que espero encontrar aqui?

No momento da leitura, todo leitor confirma ou retifica suas expectativas sobre o que imaginou encontrar. Também se interroga continuamente para saber se entende o que lê (qual a ideia fundamental do texto? Captei os argumentos principais?). Nesse processo, talvez abra o dicionário para procurar o significado de uma palavra desconhecida – ou, se decidir que ela não é central para sua compreensão, simplesmente segue em frente. No fim, dependendo dos objetivos (lembra-se deles?), pode escrever uma síntese do que leu ou incorporar trechos para uma apresentação. Ou, ainda simplesmente acolher outros pontos de vista que também contribuam para a interpretação.

Estes servem para todos

Dois procedimentos de estudo ajudam a leitura em todas as áreas e devem ser ensinados por todo o corpo docente

COMPLEMENTO

Grifos podem destacar palavras essenciais para a compreensão. Já as anotações desenvolvem, com mais detalhes, o que o conceito em evidência significa.

Anotação e sublinhado

Antes de sair grifando ou anotando, cada aluno deve ter claro o motivo da tarefa. Se a opção é destacar apenas as palavras-chave, anotações à margem podem comentar o que o termo escolhido expressa. Já se a intenção é revelar argumentos, por exemplo, os grifos devem destacar ideias completas. É essencial, ainda, que você oriente a turma a ler o texto todo antes de anotar (fica mais fácil perceber o que é relevante) e não grifar trechos enormes (com tudo destacado, o destaque perde a função). Além disso, nem todos os parágrafos têm passagens importantes.

SEM CÓPIA

Estruturas como a da foto, com destaque para os blocos significativos do texto, auxiliam alunos iniciantes e evitam que os resumos virem transcrições.


Resumo

Ao produzir textos que sintetizem os originais, uma alternativa é dividir o escrito nos blocos em que ele se estrutura (num texto opinativo, uma classificação possível é apresentação do tema, argumentação, conclusão e possíveis sugestões de solução). Considerar esses blocos ajuda a evitar o problema das cópias desenfreadas: você pode propor uma estrutura de resumo com algumas frases que os conectem.
Conforme a turma avança, você pode ir suprimindo essas passagens até que a escrita seja, de fato, autônoma.



Leitura e procedimentos de estudos em todas as disciplinas

ARTE

Em Arte, é preciso ensinar a ler textos sem palavras

Gêneros privilegiados

• Imagem

• Texto verbal

• Filme

Procedimento de estudo

• Comentário

Plano de aula: Leitura de quadro e produção de comentário



CIÊNCIAS

Conhecer textos expositivos e instrucionais para questionar

Gêneros privilegiados

• Texto instrucional

• Texto jornalístico

• Texto expositivo

Procedimento de estudo

• Relatório

Plano de aula: Leitura de reportagens e produção de resumo sobre a Amazônia



EDUCAÇÃO FÍSICA

Ler o que o corpo produz

Gêneros privilegiados

• Linguagem corporal

• Texto instrucional

Procedimento de estudo

• Esquema gráfico

Plano de aula: Leitura da linguagem corporal e produção de esquemas gráficos sobre jogos

GEOGRAFIA

Leitura de mapas e paisagens

Gêneros privilegiados

• Texto jornalístico

• Mapa

• Texto literário

Procedimento de estudo

• Croqui cartográfico

Plano de aula: Leitura de mapas e produção de croquis sobre desmatamento da mata Atlântica



HISTÓRIA

A leitura crítica de fontes históricas

Gêneros privilegiados

• Texto literário

• Imagem

• Texto jornalístico

Procedimento de estudo

• Relato

Plano de aula: Leitura de documentos e produção de relatos



LÍNGUA ESTRANGEIRA

A importância do contexto

Gêneros privilegiados

• Biografia

• Texto jornalístico

• Texto instrucional

• Canção

Procedimento de estudo

• Esquema

Plano de aula: Leitura e escrita de biografias



LÍNGUA PORTUGUESA

Explorar a diversidade, priorizando gêneros literários e opinativos

Gêneros privilegiados

• Poema

• Crônica

• Conto

• Texto opinativo

Procedimento de estudo

• Roteiro

Plano de aula: Leitura de poema análise semântica



MATEMÁTICA

Problemas matemáticos sem problemas

Gêneros privilegiados

• Enunciado de problema

• Tabela e gráfico

Procedimento de estudo

• Justificativa

Plano de aula: Leitura de problemas com frações e anotações

2 comentários:

  1. Achei ótimo este texto. O próprio aluno que o ler, Vai tirar proveito, principalmente, na questão das etapas do resumo: a sugestão é interessante.

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  2. Que bom que gostou amiga, precisamos de todas as estratégias possíveis para melhorar a leitura de nossos alunos.
    Bjim

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